Nas famílias

Falar de Sexo...

Estar informado sobre sexo, sobre sexualidade ou sobre saúde sexual e reprodutiva é antes de mais um Direito! Um Direito de mulheres e homens, raparigas e rapazes… um Direito de todos e de todas!

Uma das perguntas mais comuns dos pais, mães e educadores em contexto familiar é “o que devem as crianças e adolescentes saber acerca da sexualidade e em que idade o devem saber?” É frequente existir algum receio de dizer “coisas a mais” e demasiado cedo, havendo o receio de isso poder ferir e/ou encorajar as crianças e adolescentes a tornarem-se sexualmente ativos e ativas prematuramente.

A informação e a educação não encorajam os jovens a serem sexualmente ativos. De facto, as crianças e jovens tomam decisões mais conscientes sobre o sexo quando têm a informação que necessitam e quando não se encorajam assuntos tabu (sobre os quais não se “deve” conversar em casa).

Apesar de existir informação adaptada às diferentes idades, genericamente pode dizer-se que as repostas devem ir ao encontro das necessidades de informação e, por isso, às perguntas formuladas em cada fase de desenvolvimento. Por exemplo, uma criança de cinco anos pode querer saber corretamente os nomes das partes do seu corpo, incluindo os seus órgãos genitais.

Falar de sexo e de sexualidade é importante porque…

  • …nos ajuda a conhecer o nosso corpo e as nossas emoções;
  • …nos ajuda a melhorar a nossa vida sexual;
  • …aprendemos a proteger a nossa saúde sexual e reprodutiva, prevenindo as infeções sexualmente transmissíveis; e
  • …nos ajuda a prevenir uma gravidez indesejada.

...com crianças e adolescentes

Quando começar a falar com as nossas crianças e adolescentes sobre sexualidade?

“Lá em casa”, no contexto familiar, onde existe proximidade e intimidade com a criança ou adolescente, é um contexto privilegiado para se começar a falar sobre sexualidade.

É possível aproveitar momentos do quotidiano para estimular a curiosidade sobre o assunto como, por exemplo, falar com a criança ou adolescente ao se avistar uma mulher grávida na rua, ver uma cena amorosa na televisão, ou observar uma caixa de preservativos na farmácia.

É importante estar-se atento e disponível para as dúvidas e procurar esclarecê-las. Para isso, é importante responder, sem que isso implique ir além da necessidade de esclarecimento percebida a cada momento, observando-se a forma como a criança ou adolescente vai reagindo à informação.

Não vale a pena “florear” e evitar os factos. Mais cedo ou mais tarde, as crianças e adolescentes vão saber mais sobre a verdade; e, se não for em casa, será através de outra fonte de informação (pelas amizades, revistas, televisão, etc.).

Algumas sugestões:

  • Encorajar a autoconfiança: a autoconfiança ajuda as crianças a ultrapassar a pressão dos seus pares e a acreditar nas suas competências; é por isso muito importante promover a sua autoconfiança: as pessoas precisam de saber que são capazes;
  • Reforçar o quanto são amados: aproveitar todos os momentos para reforçar a confiança e construir a autoestima;
  • Escutar: antes de responder a uma pergunta, ouvir o que está a ser perguntado; uma pergunta sobre sexo não significa necessariamente que estejam a ter atividade sexual: não se deve precipitar nas conclusões;
  • Ser paciente: algumas crianças dirão, ou pensarão, coisas que aborrecem ou embaraçam; em vez de criticar, os adultos devem usar estas situações como oportunidades para promover a aprendizagem;
  • Promover sentimentos positivos acerca da sexualidade: deste modo cria-se uma maior proteção e consciência relativa às Infeções Sexualmente Transmissíveis (link), à gravidez indesejada ou a situações de abuso sexual, assim como melhora-se a capacidade de abordar estes assuntos com adultos;
  • Ajudar a conquistar a capacidade de tomar decisões: encorajando a fazer escolhas desde cedo, por exemplo estimulando decisões simples sobre o que vestir ou que aparência ter; estas pequenas decisões vão preparando para outras maiores;
  • Estar sempre ao seu lado: os adultos devem estar sempre do lado das crianças e jovens, fazendo com que estes/as possam confiar e acreditar que são razoáveis, independentemente do tipo de problemas ou preocupações que tragam; esta questão não tem a ver com concordar com o ponto de vista da criança ou jovem, tem a ver com concordar que aquela pessoa é capaz de tomar decisões;
  • Assegurar que são aceites como são: muitas crianças e jovens desejam saber, em dada altura, que são aceites; é um sentimento normal no desenvolvimento, que tem a ver com a inquietação de serem compreendidos/as.

Os Valores e as crenças

Os valores afectam as escolhas e os comportamentos. No seu desenvolvimento, as crianças e jovens desenvolvem a capacidade de tomar decisões e definem os seus próprios valores. Nesse caminho, os adultos devem ser claros acerca das suas escolhas, sabendo partilhá-las com respeito e sem impor.

É importante compreender a diferença entre factos e crenças pessoais. Se alguém considerar, por exemplo, que um/a jovem não deve iniciar as relações sexuais antes da uma dada fase, isso não significa que essa seja uma verdade única para todas as pessoas, mesmo que muitas sigam opções semelhantes. É, por isso, muito importante ajudar as crianças e jovens a compreender a diferença entre os seus valores e a informação factual. Até porque algumas vezes, estas crenças pessoais são dissonantes com o que se observa nos diferentes contextos em redor.

O uso de conceitos-chave pode contribuir para esclarecer:

  • Respeito: todas as pessoas, crianças, jovens e adultos devem ser tratados com dignidade;
  • Consequência: todas as ações, decisões e escolhas têm resultados positivos e negativos;
  • Responsabilidade: responder pelas próprias ações, quer estas venham a revelar-se boas ou más;
  • Honestidade: dizer a verdade e procurar ser coerente com o que se afirma;
  • Autoestima: sentir-se bem com o que se é, e com o que se quer ser, criando uma base sólida para o respeito.

Quando a religião tem um papel importante na vida de uma pessoa adulta, pode também ter um papel na discussão dos valores em relação à sexualidade. Independentemente disto, é sempre importante deixar espaço para que cada um desenvolva as suas próprias crenças e valores, e ter a consciência de que é importante que cada pessoa faça as suas aquisições e faça as suas escolhas.

O que lhes dizer sobre… Infeções Sexualmente Transmissíveis

Normalmente, quando as crianças ou jovens ouvem falar sobre Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST) pensam em VIH/SIDA. Existem, no entanto, muitas outras. O que é, então, importante saber sobre IST?

  • As IST são transmissíveis através de relações sexuais vaginais, orais e anais, ou de outros contactos íntimos;
  • As IST podem provocar danos permanentes na saúde das pessoas sem mostrarem qualquer sintoma;
  • Ninguém está imune às IST;
  • As IST podem ter consequências perigosas e exigir cuidados médicos; a maioria, no entanto, pode ser tratada e curada com medicação;
  • Algumas IST podem ser transmitidas da mulher para o bebé durante a gravidez, nascimento ou parto.

Uma das IST, o VIH/SIDA, pode ser um assunto particularmente sensível para jovens. Ouvem muita informação e muita dela é assustadora e ameaçadora. Os/as jovens precisam de saber o que é a SIDA e como a evitar. Estes são alguns factos básicos que pode partilhar:

  • A SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é uma doença provocada pelo VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana);
  • O VIH penetra no organismo por contacto com uma pessoa infetada;
  • A transmissão pode acontecer de três formas: relações sexuais sem proteção; contacto com sangue infetado (por exemplo na partilha de agulhas ou de outros materiais para consumo de drogas); de mãe para filho, durante a gravidez, o parto, ou a amamentação.
  • O VIH enfraquece o sistema imunitário do nosso organismo, destruindo a capacidade de defesa deste em relação a muitas doenças;
  • A transmissão de VIH através de uma transfusão de sangue ou através de alguns procedimentos médicos é muito improvável;
  • O VIH não se transmite através de abraços, beijos, toque, tampos de sanita ou água da piscina;
  • Se for uma pessoa for sexualmente ativa, a forma mais segura de evitar o VIH é utilizar o preservativo /metodos-contracetivos/preservativos.

O que lhes dizer sobre… abuso sexual

O abuso sexual acontece sempre que a privacidade sexual de alguém é desrespeitada. Forçar alguém a ter relações sexuais chama-se violação. Mas a violação é só um dos tipos de abuso sexual.

O toque não desejado, as carícias não desejadas, a observação não desejada, a conversação não desejada ou ser forçado a olhar para os órgãos sexuais de outra pessoa, são outras formas de abuso sexual.

Embora a maioria das pessoas que praticam o abuso sexual sejam homens, os perpetradores podem ser homens ou mulheres, amigos/amigas ou até membros da família. De facto, a maior parte dos casos de abuso sexual são cometidos por pessoas conhecidas ou familiares.

O abuso sexual, a violação e o incesto são crimes graves punidos pela lei. No entanto, são ainda seriamente omitidos. Muitas vezes, as vítimas sentem-se demasiado embaraçadas e envergonhadas para contar o que lhes aconteceu. Sentem-se, muitas vezes – ou fazem-nas sentir -, que o abuso ou a violação foi culpa sua.

É importante assegurar que as crianças e os jovens sabem que:

  • Ninguém tem (nunca) o direito de lhes tocar ou de os obrigar a fazer algo de carácter sexual sem a sua autorização;
  • As vítimas de abuso sexual não são responsáveis pelo que lhes aconteceu;
  • A ideia de abuso sexual pode confundir muito as crianças: as crianças são muitas vezes ensinadas a respeitar as pessoas adultas e a fazerem o que lhes dizem para fazer; além disso, muitas crianças/jovens são obrigadas a prometer segredo sobre o abuso sexual.

Falar abertamente sobre o que é o abuso sexual, cria consciência sobre o direito de proteção. Cada pessoa que seja vítima de abuso sexual deve falar com alguém em quem confie – alguém que seja capaz de ajudar a acabar com o abuso sexual.

...com as pessoas adultas da família

Da mesma forma que falar com as crianças e adolescentes sobre sexualidade é complexo, também para eles e elas pode ser difícil falar com as pessoas adultas. No entanto, conversar sobre sexualidade ajuda a estruturar as relações e a criar o contexto para a aquisição de competências e segurança, próprias das relações de intimidade.

Algumas sugestões:

  • Ir ao encontro dos assuntos que parecem ser os mais importantes;
  • Escolher uma narrativa para explicar o porquê de uma decisão, ou de uma dúvida;
  • Ouvir e perceber a posição das outras pessoas;
  • Saber captar a atenção, a partir da explicitação do dilema ou dúvida;
  • Compreender qual o ambiente e o momento para conversar (por exemplo: será mais adequado um momento de descontração ou um contexto de maior dedicação?);
  • Procurar uma atitude responsável, revelando preocupação com a contraceção ou com a proteção contra doenças ou mesmo com os sentimentos da outra pessoa;
  • Mostrar honestidade e sinceridade no que se diz.

O diálogo pode começar a partir de qualquer outro assunto que introduza o tema que se quer abordar.

...com a parceira ou parceiro

Uma comunicação aberta e honesta com a pessoa com quem nos relacionamos sexualmente é um passo fundamental para ter uma vida sexual mais satisfatória e mais saudável.

Uma conversa deste tipo merece um ambiente e um espaço confortável para ambos, sendo importante identificar com clareza os assuntos a conversar: contraceção, emoções, prazer, saúde, etc.

Algumas sugestões:

  • Mostrar o valor da conversa;
  • Ser paciente;
  • Ser honesto/a e direto/a;
  • Mostrar abertura, desmontando preconceitos;
  • Estar atento/a e disponível para ouvir.

...com profissionais de saúde

Por vezes, falar com profissionais de saúde pode levantar alguns bloqueios. É possível que o receio seja sobretudo pessoal, por se achar que não é suposto falar da intimidade, por se recear que a outra pessoa fique a pensar mal de nós, por se achar que se corre o risco de exposição e possível perda de sigilo.

Apesar destes possíveis receios, a abordagem destas temáticas com profissionais de saúde é muito importante, pois para além de permitir identificar alguma possível patologia, é também um contexto de neutralidade que permite uma abordagem franca e descomprometida.

...com a Escola

A Escola tem uma papel importante na educação de crianças e jovens sobre as temáticas da sexualidade. No entanto, não é o único agente na Educação Sexual. Família e Escola têm um trabalho complementar nesta educação, que será tanto mais rica quanto mais feita em sintonia.

Neste sentido, a participação de familiares e educadores/as na Escola é uma mais-valia, para que se encontrem estratégias eficazes de melhoria da qualidade da educação. Na perspetiva da Escola, também é importante perceber que a Família tem preocupações e está atenta ao desenvolvimento individual.

Referências

Pontos nos is – A Educação Sexual lá em casa

A brochura “ Pontos nos is: a Educação Sexual lá em casa” destina-se a pais, mães e educadores/as em geral. O que se espera dos pais e das mães e dos/as educadores/as em contexto familiar? O que devem saber sobre sexualidade juvenil para poderem conversar com as crianças e adolescentes? Quais as questões mais frequentemente abordadas?

Ditos e Não Ditos – Educação Sexual e Parentalidade

“Ditos e Não Ditos – Educação Sexual e Parentalidade” foi um projeto desenvolvido pela APF no ano de 2009, dirigido a pais/mães e encarregados/as de educação de crianças e jovens em idade Escolar, como o objectivo de promover a parentalidade positiva e a formação parental, melhorando a comunicação intrafamiliar e reforçando as capacidades dos educadores nas suas funções parentais.

No âmbito deste Projeto, desenhou-se um referencial de formação parental, cuja matriz pode ser consultada  aqui

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